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100 dias entre a Itália, Irlanda e Israel (Parte 1 - Itália)

Parafraseando Amyr Klink, no título do seu o famoso livro “100 dias entre céu e mar”, os nossos 100 dias entre a Itália, Irlanda e Israel foram de céus, mares, rios, lagos, ilhas, continentes, praias, montanhas, desertos, florestas, vilinhas, cidades, feirinhas, hortas, pomares, homos, falafel, pizza, ateus, hinduístas, budistas, muçulmanos, católicos, gatinhos, cachorrada, gansos, galinhas, coelhos e família! Hehe



Danilo tatufaio e equipe

Vivenciamos extremos: derretemos no verão em Israel e quase mofamos no frio chuvoso do alto verão irlandês. Deliciamo-nos com os cafés e a variedade de queijos e “pastas” (macarrão) na Itália e aprendemos a amar cada gostinho da culinária vegana (e que não utilizava cebola, alho, cogumelos e nem cafeína) do centro de yoga e meditação na Irlanda. Convivemos com ateus fazendo o Caminho de São Francisco de Assis, na Itália, e assistimos desconcertados à vida comunitária e entrelaçada entre cristãos, judeus e muçulmanos em Nazaré, Israel.


Mas nossos dias não foram só de extremos. Encontramos muito em comum pelas terras por onde andamos. Paisagens de tirar o fôlego, rotinas apressadas e duras nas cidades, estações de trem e aeroportos, cura do corpo e da alma em meio à natureza, pessoas abertas para dar o melhor de si, em busca de autoconhecimento, de vidas mais plenas, bicharada querida por todos os lados, fazendo o nosso mundo (pelo menos o nosso – Clever e Pazu) mais feliz.


Enfim, podemos dizer que nos bateu aquela sensação de que não sabemos de nada dentro do “nosso mundinho”. Lembrei-me da música dos Beatles, de autoria de George Harrison, "The Inner Light", que diz:


“Without going out of my door (Sem sair pela minha porta)

I can know all things on Earth (Posso conhecer todas as coisas na Terra)

Without looking out of my window (Sem olhar para fora da minha janela) I could know the ways of Heaven (Eu poderia conhecer os caminhos do Céu) The farther one travels (Quanto mais longe se viaja) The less one knows (Menos se sabe) The less one really knows (…)” (Menos realmente se sabe (...))


Ao mesmo tempo fomos inundados por uma imensa gratidão de poder abrir as portas e janelas da mente e do coração para viver e aprender com tudo e com todos nesse mundão!


Aqui tem um resuminho do nosso “roteiro físico-externo” por esses locais (o roteiro “interno” está em constante transformação– hehe).


Itália (02 junho a 11 de julho e depois 27 agosto a 17 outubro de 2016) – estivemos apenas na Região da Emilia-Romagna: Bologna, Ravena, Tredozzio, Portico de Romagna, Roca San Casciano, Forli e a fazendinha Capannina de Sarturano.


Irlanda (12 julho a 5 agosto de 2016): estivemos em Dublin, Ennis, Mountshannon, Gort, Doolin, Scarriff e Cliffs de Moher


Israel (6 agosto a 28 agosto 2016): estivemos em Cesárea, Bin Yamina, Nazaré, Jerusalém, Tel Dor e Rosh Pina.


Nesse relato vamos contar um pouco da nossa estadia na Itália, que basicamente girou em torno da vida em família e trabalho e lazer na fazendinha Capannina di Sarturano e arredores dessa região linda da Itália.


Antes de desembarcarmos em Bologna, o nosso último destino tinha sido 3 meses na África. Estivemos o último mês com a turminha do GTT – Greyton Transition Town, em Greyton, perto de Cape Town, na Africa do Sul (a gente escreveu sobre eles aqui). Nos últimos dias por lá, eu (Pazu) participei do retiro de meditação Vipassana: foram 10 dias em nobre silêncio, acordando às 4h00 da madrugada, com alimentação leve e meditação durante 11 horas por dia. Isso merece um post próprio, né?! Bem, nesse clima de introspecção e valorização do que realmente importa na vida chegamos na “Capannina de Sarturano”, na região da Emilia-Romagna, na casa da família Chinaglia-Baruzzi.


A Silvia Chinaglia, brasileira, irmã do Clever, mora na Itália há mais de 20 anos e é casada com o Giancarlo Baruzzi, italiano, e juntos têm dois filhos, o Danilo (15) a Anita (10). Em 1997 o casal adquiriu a propriedade que tem aproximadamente 10 hectares. A casa da fazendinha é grande e superconfortável. Já foi observatório medieval nos anos 900 DC e abrigava animais no piso inferior até algumas dezenas de anos atrás. A casa da Capannina também é o primeiro Refúgio para os peregrinos do “Caminho de São Francisco de Assis” (13 dias percorrendo 300 km), e então está sempre cheia durante o verão. Em média, são 500 peregrinos por temporada, provenientes de diversas partes do mundo. Após caminharem 23 km no primeiro dia do Caminho, chegam à fazendinha ávidos por um banho, comida e repouso. A estadia inclui um jantar maravilhoso preparado pela Silvia, o descanso em um quarto na casa da família e o café da manha com pão, geleia de framboesa, peras, abricó e outras delícias preparadas na casa. A nossa hospedagem na Capannina foi em um trailer, que fica ao lado da casa, novinho e confortável cedido por um amigo do casal.


A fazendinha mantém algumas “frentes de produção”. As framboesas orgânicas são uma importante fonte de trabalho (hehe) e renda. São mais de 1.000 plantinhas e, durante o verão, são colhidos mais de 400 quilos de framboesas! Coleta manual: uma a uma. A Sílvia coordena a produção de geleias, sucos concentrados e vinagres de framboesa e comercializa os produtos e framboesas frescas tanto na fazendinha quanto nas feiras e mercados na região.

Há também um pequeno apiário e a criação de coelhos (free range) para abate – única do tipo em toda a região, e galinhas caipiras para abate e produção de ovos. Ainda há 3 pavões, 7 gansos, uma patinha, 4 codornas, 6 cachorros e 4 gatos que convivem entre o galinheiro e a casa da família.


Por fim, a nova linha de “ produção ”, na qual a família está dedicando tempo e investindo dinheiro e esforços é a “Tartufaia Controllata”, que significa “produção” própria e controlada de tartufos (trufas, em português, truffle, em inglês). Para nós, brasileiros, quando falamos em trufa, nos lembramos daquelas de chocolate (hmmmmmmmmm – delicia!). Então, pra melhor explicar o que são os “tartufos”, recorremos à Wikipédia:


Trufa ou túbera é a denominação popular dada aos corpos frutíferos subterrâneos das espécies de Tuber, um gênero de fungos da família Tuberaceae. Algumas das espécies têm sabor e aroma agradáveis, sendo consumidas pelo ser humano há mais de três mil anos. Os tipos mais conhecidos são a trufa branca (Tuber magnatum), a trufa negra (Tuber melanosporum) e a trufa de verão (Tuber aestivum).

A trufa nasce sob a terra, a uma profundidade de 20 a 40 centímetros, próximo à raiz de carvalhos e castanheiras. Possuem aspecto de mármore negro e bege. O trufeiro, especialista em trufas, é quem revolve a terra e retira a trufa do solo sem quebrá-la nem ferir-lhe a superfície. Ela só terá valor se as suas características originais forem preservadas. A colheita é feita recorrendo a cães adestrados que as podem localizar por meio do olfato.

Na Capannina temos 3 trufeiros (ou tartufaios, em italiano) profissionais: Danilo, Giancarlo e Sílvia, e uma tartufaia júnior, em treinamento informal, a Anita! Hehehe. Os tartufaios de 4 patas são a Pepita (lindiiiinha), o Artur (o galã da fazendinha), o Milo (querido) e a tartufaia júnior, em treinamento formal, Moka (fofura total de 5 meses). Como parte dos requisitos legais/formais para se tornar uma tartufaia controllata foram plantadas mais de 250 mudas de Carvalho e Carpinus e a área foi cercada para que outros tartufaios da região não acessem a reserva.

O mercado de trufas é tão importante na Europa que até tem a “Bolsa de Valores do Tartufo”, que aponta os preços pagos no dia para o ETO (que equivale a 100 gramas de trufa). Os valores do ETO variam entre 100 a 500 Euros, dependendo do tipo, tamanho, condição e oferta do tartufo na época do ano e região.


Com tudo isso vocês podem imaginar a quantidade de trabalho (e alegrias!) na Capannina. Por isso, aos interessados, aproveitamos para avisar que eles também recebem voluntários via WWOOF (World Wide Opportunity on Organic Farms - wwoof.net). O site da Capannina é: http://capannina.weebly.com/ . Recomendamos!


Famiglia


Após 3 meses na África, desembarcar na Itália e ficar no aconchego familiar foi uma grande alegria. Há mais de 9 anos que não nos encontrávamos com os Chinaglia-Baruzzi! Quanta saudade da “pasta”, comida caseira “conhecida”, comer à mesa com toda família 2 vezes ao dia, brincar, passear, trabalhar, assistir filme, praticar yoga, filosofar, nadar no rio e na piscina pública e rir com os sobrinhos! Ai que delícia! O S. Alcides e a D. Esther Chinaglia (pais do Clever, Silvia e Rodrigo) passam os verões na Capannina para estar com a turminha e ajudar nas múltiplas tarefas intensivas dessa época do ano. Dessa vez, somente S. Alcides estava na Capannina e foi ótimo pode estar com ele também: ele não pára um minuto, tem muuuutia energia e isso serviu de exemplo para nós.


Nossa rotina de “trabalho” incluía colher framboesas (que é meditação ativa total!) e alimentar os seres vivos quadrúpedes e bípedes alados. Que queridos! Clever também ajudava o Giancarlo e Danilo nas reformas, novas construções e na limpeza do bosque da área de tartufos.

Gostamos tanto da nossa estadia na Capannina que não queríamos mais ir embora! Hehehe. Por sorte, o meu visto (Pazu) para turista vencia após 3 meses nos países do Acordo SCHENGEN e tivemos que programar uma viagem para países que não pertencem ao acordo. E assim fomos parar na Irlanda e Israel! É sempre bom ter algo dando uma “empurradinha”, senão a vontade de ficar e agarrar-se ao que já é conhecido e confortável é grande.


Mas essa foi e está sendo uma grande lição para nós: fomos “obrigados” a deixar uma situação super feliz e confortável, mas ganhamos tanto ao visitar lugares que sequer havíamos planejado, onde gostamos e aprendemos tanto e ainda fizemos amigos queridos!!!!


Na volta para Itália, ficamos mais 1 mês com a família e de novo bateu aquela “preguicinha” de nos movermos. Ahhhh, eu só queria ficar no conforto do lar com a famiglia! A Silvia que o diga! Hehe. Acredito que esse é um grande desafio para todos nós: deixar o que parece estar indo bem e entregar-nos ao desconhecido. Bate aquele receio: será que vamos passar muito “perrengue” no próximo destino? Como brinca nosso amigo Vitinho Ranieri: "na Ásia começam os famosos 3Ps: perrengue, pimenta e piriri!". Hehehehe Mas... tomamos coragem e aqui estamos nós, na Tailândia, em frente ao mar, comendo maravilhosamente bem, descansando, conhecendo gente linda do mundo todo, tendo tempinho para escrever no blog, compartilhar nossas experiências e fotinhos e sendo felizes por aqui também. E como já dizia o poeta: “Saudade existe para quem sabe ter.” (Geraldo Azevedo). Ah, nós sabemos ter saudades! Hehe Assim é a vida, não é mesmo?


E aqui vai uma poesia da Cora Coralina dedicada a todos vocês que fazem parte da nossa jornada.


“Sou feita de retalhos. Pedacinhos...”


Sou feita de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou. Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa. E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... Haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma. Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias. E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de "nós".”


Click aqui para as fotinhos

Agradecemos a cada um de vocês que se entrelaçam nos retalhos de nossas vidas. Rumo ao bordado de “nós”, recebam o nosso abraço!


Para a próxima postagem estamos preparando um textinho e fotinhos da Irlanda.


Ahh, para ver as fotinhos lindas da nossa “costura-estadia” na Itália é só clicar aqui ou no icone à esquerda!


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