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Experimentando o Camboja turístico e o real

Sabe aquela família que tem o primo rico e o primo pobre? Então... ficamos com a sensação de que o Camboja é o primo pobre nesse cantinho do mundo. Ahhhh, começar um post assim não vale, né? hehe


Vou recomeçar:

A história recente do Camboja é muito triste, marcada por um genocídio e uma guerra civil. De 1969 a 1975, sofreu intensos bombardeios dos EUA, em tentativas de dizimar os guerrilheiros do Vietcong infiltrados na região da fronteira. Esse cenário serviu para o fortalecimento do movimento revolucionário comunista Khmer Vermelho que derrubou o governo em 1975, evacuou as cidades e criou uma economia agrária baseada na coletivização da produção. A capital, Phenom Pehm, que na época tinha 2 milhões de habitantes, ficou va-zi-a. Imaginem mandar toda a população de Campinas (SP), por exemplo, para trabalhar forçadamente nos campos de arroz. Os que resistiam ou tinham algum traço que remetesse à “intelectualidade” eram enviados às prisões. Profissionais como médicos, advogados e professores, também foram afetados, já que eram vistos como um sinal forte de intelectualismo e, portanto, um risco ao regime. Contam por aqui, que quem usava óculos já ia para prisão diretamente. Todas as escolas foram fechadas. Calcula-se que um quarto da população morreu em prisões, campos de concentração, por excesso de trabalho e ainda de desnutrição.


A capital deserta durante o regime do Khmer Vermelho

A guerra civil e o genocídio cambojano afetaram significativamente a demografia do Camboja. Pacificado apenas na década de 1990, atualmente o País tem 15 milhões de habitantes e quase 50% da população tem menos de 22 anos de idade.


As consequências dessa devastação ainda são notadas no cotidiano do País: pobreza, baixa escolaridade da população, minas terrestres ainda não detonadas, florestas destruídas, poluição e dor nas histórias de vida de muitos cambojanos - lá no cantinho do coração. E tudo isso contrasta com a gente absolutamente amável, sorridente, tranquila, levando suas vidas simples nas áreas rurais do país.


Passamos por poucas cidades, mas todas elas muito sujas, ruidosas e com pouquíssima infraestrutura, o que também contrasta com a paz e a beleza (de cair o queixo) dos templos do antigo Império Khmer. Ai, que maravilha!


E nesse espírito de vivenciar os contrastes e conhecer um pouco dessa gente cambojana, começamos nossa viagem pela capital do Reino.


Chegando à capital, Phenom Pehm


Após três semanas de voluntariado na Mindful Farm, na Tailândia, em meio à natureza, com yoga, meditação, alimentação orgânica, gente querida e muita paz, eu me sentia como uma borboleta: leve e voando feliz mundo afora. Só que a borboleta teve que sair do conforto e foi voar em duas das mais caóticas e poluídas cidades do sudoeste asiático. Primeiro, Bangkok, capital da Tailândia, onde passamos quatro dias. O impacto foi grande. Ficamos atordoados e nosso corpinho adoeceu. As vias aéreas ficaram entupidas, os olhos ardendo, náuseas. Imagine o animo que tínhamos para “passear” pela cidade... Assim, o único passeio que fizemos na região de Bangkok foi para conhecer uma das antigas captais da Tailândia, chamada Ayahutaia. Valeu a pena! Algumas fotos desse lugar incrível estão no final da sequencia de fotos da Mindful Farm, que você já viu mas pode acessar a partir desse link: CLIQUE AQUI!


De lá, pegamos um voo e fomos para a cidade de Phnom Penh, capital do país vizinho, Camboja, para mais três dias. Do aeroporto, pegamos uma tuk-tuk e logo na primeira avenida encaramos um tipo de trânsito que não dá para descrever. Tem que ver! Hehe. Motinhos, tuk-tuk, carros, ônibus, vans e bicicletas cruzando em todas as direções, incluindo a contramão, as perpendiculares e as diagonais! Afeeee! Mas não se escutava sequer uma buzina. Todos pareciam estar tranquilos com aquele aparente caos. Incrível. Vesti uma máscara facial tentando evitar respirar tanta fumaça, mas não adiantou muito. Entreguei-me ao caos e à poluição e seguimos até o hotel, na região central da cidade. Era impossível caminhar pelas calçadas: entulho, carros estacionados, buracos e às vezes até famílias dormindo... Tudo isso em um cenário que parecia de filme retratando uma bela cidade no pós-guerra. As fachadas nos lembram o que Phnom Penh já foi. Era conhecida como a “Pérola da Ásia” e considerada uma das cidades francesas mais bonitas da Indochina dos anos 1920.


No dia seguinte, domingão, fomos caminhar à margem do rio Mekong, visitamos o mercado e o Palácio Real, para sentir um pouco mais da cidade. Havia várias famílias pescando, fazendo piquenique e os monges de “folga” caminhando tranquilamente pela orla.


A maioria dos cambojanos pertence à etnia khmer e o idioma oficial é Khmer, que tem escrita própria. A dificuldade na comunicação já começou com o nome da cidade! Não havia meios de eu conseguir memorizar o jeito de falar “Phnom Penh”! Hehe Ainda bem que o Clever vai bem melhor nesse quesito – reproduzir sons esquisitíssimos dos nomes dos lugares. A turma se comunica super bem com ele!


Dos programas “mais recomendados” para os turistas em Phnom Penh estão os campos de extermínio. Normalmente visita-se o “Museu do Genocídio Tuol Sleng”, uma escola que na época do Khmer Vermelho foi convertida na prisão S-21. Nesse lugar, os prisioneiros foram interrogados, torturados e estima-se que mais de 20.000 homens, mulheres e crianças foram mortos. Genteeeem, quanta tristeza! Nem precisa dizer que não fomos visitar. Vale aqui um minutinho de cada leitor(a) para mandar vibrações de paz a todos envolvidos nesses terríveis eventos. Pausa.


Continuando, depois de dois dias seguimos em direção ao sul do País, para voluntariar numa fazenda orgânica de pimenta-do-reino, na famosa região produtora de Kampot.


Rumo ao interior: a caminho da Sothy´s Pepper Fam


Pesquisando na internet e conversando com os turistas por aqui, percebemos que a grande maioria vem ao Camboja para visitar o complexo de templos de Angkor, na cidade de Siem Reap, no norte do País. Por aí já se nota que o turismo não está muito desenvolvido nas demais regiões. Na prática, a dificuldade de transporte interno é grande. Rodoviária é para os fracos! Hehe. Mesmo na capital, os pontos de vendas de bilhetes de ônibus estão em esquinas tumultuadas que parecem mercados, onde pouquíssimos falam inglês. Boa sorte! Hehehe


A paisagem ao longo do caminho é composta por belos rios, áreas alagadas “naturais”, plantações de arroz (boa parte abandonada), palafitas e mercadinhos. Os rios têm sido um meio de transporte de historicamente importante e continuam a ser uma parte significativa do sistema de transporte cambojano. A agricultura ainda é o setor mais importante da economia e emprega a grande maioria da força de trabalho, sendo o arroz o principal produto agrícola do Camboja. Arroz é a base da alimentação dos cambojanos e presente nas três principais refeições do dia. Na hora da comida o pessoal da fazenda em que fomos voluntários sempre gritava: “Nhambae! Nhambae!” e soubemos que significa literalmente “comer arroz” em khmer.


Sothy´s pepper Farm, entre a tradição e a transformação


Na região de Kampot, o cultivo de pimentas-do-reino em escala comercial remonta há mais de 150 anos. Durante a guerra as plantações foram destruídas ou abandonadas, mas atualmente a região tem mais de 340 produtores orgânicos de pimenta-do-reino.

Chegamos à fazenda da Sothy, que fica a 22 km de Kampot, para duas semanas voluntariando sem saber absolutamente nada sobre o cultivo de pimentas. Fomos recebidos pela sorridente proprietária Sothy, cambojana, que, junto com seu marido alemão, Norbert, gerencia a propriedade de 3 hectares há 4 anos. Além de pimentas, a fazendinha tem um restaurante e cultiva durians, mangostins, rambutans, mangas, bananas e mamões. Delícia!


As atividades nessa época do ano (inverno, com pouca chuva e temperatura media de 28oC) giram em torno da manutenção dos pés de pimenta, triagem, empacotamento e venda do produto. Além disso, como é alta estação para os turistas, na Sothy´s Pepper Farm são oferecidos tours gratuitos pela plantação, com “degustação” das pimentas. Nossa principal tarefa era guiar os tours para os turistas que falavam inglês, espanhol e/ou português. Recebíamos cerca de 100 turistas por dia, mas não vieram brasileiros para podermos gastar nosso português! hehe Para guiar os turistas tivemos que apender rapidamente sobre o cultivo orgânico de pimentas, desde a preparação do solo, processo de secagem até como reconhecer uma pimenta de alta qualidade. Podemos dar consultoria gratuita agora! hehe


Éramos ao todo seis voluntários, sendo dois franceses, uma belga e um russo. Todos nós fomos instruídos pelo Kim, cambojano, conhecedor de turistas e de pimentas, divertido e poliglota. Ele sempre tinha histórias para contar e aprendemos muito sobre a cultura do Camboja com ele. Para as tarefas nas plantações e no restaurante, a Sothy contava com 12 trabalhadores cambojanos. Apesar da comunicação com essa turma ser por meio de sorrisos e gesticulações, sentíamos aquela empatia total com as “locais” (a maioria era de mulheres).


Nosso quarto era simples, com “paredes” feitas de esteiras duplas de bambu. Na verdade, era um luxo! A essa altura do campeonato e trabalhando como voluntários, quando temos um quarto exclusivo para nós, com cama de casal, mosquiteiro e ainda um banheiro, é um luxo to-tal! Aranhas, baratinhas do mato, pererecas, lagartos e lagartixas nos faziam companhia. Para nós, isso é companhia, mas para os franceses... Ah, eles estavam quase surtando! hehe


Tínhamos um dia de folga por semana e aproveitávamos para dar um passeio de bicicleta pela região. No caminho, passávamos por vilarejos e encontrávamos com aquela gente simpática ao extremo, que com um sorrisão no rosto acenava e nos cumprimentavam com um alto: “Helloooooo!”.


Só temos a agradecer à Sothy e à sua família pela acolhida. Dificilmente teríamos tido a oportunidade de aprender tanto da cultura Khmer como “turistas convencionais”. ARKOUN​ CHRAEN (អរគុណ​ច្រើន)!


Siem Reap: o encanto dos templos de Angkor


De Kampot, no sul, pegamos ônibus na rodovia para a cidade de Siem Reap, porta de entrada para os famosos templos de Angkor. Foram 11 horas de viagem para percorrer 458km, naquele esquema de parar em todos os lugares para pegar gente e mercadoria.


Após 11 meses de viagem pelo mundo, já descobrimos que, se queremos vivenciar um lugar, não podemos ficar apenas 2 ou 3 dias. Por isso, nos hospedamos por 10 dias no simpático hostel Mantra Villa Boutik em Siem Reap. A equipe é bem familiar e ainda entre eles conhecemos o Roberto Alves, um brasileiro que mora há dois anos no Camboja, mas já viveu durante 20 anos no Japão! Conhecemos a Noriko Christina, japonesa que mora em Siem Reap e fala super bem português! As conversas por aqui sempre são regadas a muita cultura khmer e agora também nipo-brasileiras. Estamos gostando muito.


Aproveitamos o convite da Christina para assistirmos um espetáculo fantástico Phare Circus, cujos artistas são alunos de uma ONG cambojana que inclui grupos socialmente desfavorecidos por meio do circo, musica e artesanato. Adoramos! Obrigada-Arigato, Christina!


Depois de nos assentarmos e conhecermos um pouco da cidade, fomos fazer nossa visita ao complexo de templos de Angkor, a antiga capital do Império Khmer, durante a sua época de esplendor, entre os séculos IX e XV. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Angkor_Wat). Clever começou sua expedição pelos templos durante dois dias em bicicleta, percorrendo uns 50 km, e no terceiro dia me guiou pelo local, que é imenso e absolutamente incrííííííivel!


Apesar de dizerem que o clima é ameno no inverno, já começamos o dia suando! E assim chegamos a Angkor Wat, o mais famoso, maior e mais bem preservado templo do complexo de Angkor - nós e grande parte dos 2,1 milhões de turistas que visitam os templos anualmente. Afeeeee! Nunca estivemos numa atração turística com tanta gente. Todos querem conhecer!

Não é à toa que Angkor Wat é tão famoso. Trata-se do único templo que restou com importante significado religioso - inicialmente hindu, e depois budista - desde a sua fundação. O templo é o ponto máximo do estilo clássico da arquitetura Khmer e é considerado como a maior estrutura religiosa já construída no mundo. Tornou-se símbolo do Camboja, aparecendo na bandeira do reino e foi declarado pela UNESCO Patrimônio da Humanidade.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Angkor_Wat)


Nos demais templos do complexo pudemos vivenciar mais quietude, com menos pessoas e ainda com aquela atmosfera maravilhosa da floresta entremeando-se àsruínas dos templos. Não sei se veremos algo parecido com isso nessa vida...


E assim nos despedimos do Camboja, com muita gratidão a esse povo querido e muita honra a essas terras de mistérios e belezas!


Album do Flickr

Mais fotos de nossa passagem pelo Camboja e pelos templos de Angkor estão no album do Flickr que o Clever montou. Para acessar cliquem aqui ou no ícone do Flickr ao lado.






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