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100 dias entre a Itália, Irlanda e Israel (Parte 2 - Irlanda)


Sabe aquela vontade de visitar a Irlanda, conhecer os castelos, as ruínas celtas, as paisagens e os Cliffs de Moher? Então... Nunca tive! Hehe! Fomos parar na Irlanda com toda essa motivação e, no final das contas, podemos dizer que valeu a pena!

Planejamos ficar 3 meses (a partir de junho) na fazenda Capannina di Sarturano (esse é o post), na Itália, com nossos familiares, e depois partir para a Ásia. Como a temporada de monções (chuvas fortes) por lá acaba no final de outubro, teríamos que ficar por 4 meses na Europa. O Acordo SCHENGEN permite que brasileiros fiquem apenas 3 meses nos países signatários do Acordo, e a Itália é um deles. Por isso tivemos que procurar algum país nas proximidades da Itália e que não fosse signatário do acordo para passar uns meses antes de embarcarmos para terras asiáticas. Fizemos uma rápida pesquisa nos países que não eram signatários do SCHENGEN e, usando a técnica especialmente desenvolvida durante essa nossa viagem, decidimos aleatoriamente (hehe) ir até a Irlanda e Israel.

Sunrise Farm

Procuramos no site da rede de fazendas orgânicas (WWOOF) alguns lugares pra voluntariar na Irlanda e, em meio a dezenas de ofertas, nos chamou a atenção uma fazendinha que ficava entre o “nada e o lugar nenhum” - como todo o interior da Irlanda... hehe. Além das atividades ligadas à horta e pomar, eles também praticavam yoga e meditação e a alimentação era vegetariana. Bastou isso para nos animarmos com a proposta. Escrevemos para a “Sunrise Farm Ireland” e a responsável pelo local, a Didi Ananda Prama, nos respondeu rapidamente, aceitando o nosso voluntariado por lá.


E assim partimos para a Irlanda! Chegamos livres, leves e soltos no aeroporto de Dublin e passamos uma noite na cidade. Deu pra conhecer a atmosfera bem cosmopolita e intensa dessa capital. Nas ruas do centro escutamos mais português (do Brasil) que outros idiomas (mais que inglês)! Descobrimos que Dublin tem sido muito procurada por brasileiros para fazer cursos de inglês, porque são mais baratos que em outros países, a vida em Dublin é considerada tranquila, não há tantas exigências na imigração, e ainda pode-se trabalhar enquanto está matriculado em escolas de idiomas. Por lá já pudemos sentir o que estaria conosco por quase 3 semanas: o verde intenso da vegetação, a simpatia dos irlandeses, os dias nublados e o frio do alto verão irlandês! Hehehe

A caminho da Sunrise Farm e Centro Ananda Marga

Pegamos um ônibus em uma esquina de Dublin, pois rodoviária não existe, e cruzamos o país em 4 horas de viagem (300 km) até chegarmos numa cidadezinha perto de Galway, chamada Portumna (Condado de Clare). Já nos chamou a atenção que os “locais” pegam o ônibus para trabalhar em Dublin e, no final da tarde, quando voltam pra casa, vão descendo ao longo da rodovia e pegando seus carrões (Audis, Mercedes Benz, Volvos...) todos estacionados na beira da estrada mesmo. Ou seja, claramente preferem usar o transporte coletivo para ir até a capital e não o automóvel próprio.


As estradas são boas, mas são super estreitinhas, cheias de curvas fechadas e sem acostamento. Muitas vias se parecem com a Rodovia Oswaldo Cruz (SP-125) que liga Taubaté a Ubatuba. Até aí tudo bem, não fosse pelo fato de que as placas sinalizam o limite de 100 km/h, em locais que no Brasil certamente seriam no máááximo 40km/h!! Que é isso, minha gente? Dizem por aqui que os irlandeses ficaram tão cansados das regras e do domínio dos ingleses na Irlanda, que agora que são “independentes”, detestam regras governamentais e policiamento. No caso das estradas, nem que a pessoa queira, não conseguira levar uma multa por excesso de velocidade, simplesmente porque é impossível ultrapassar o limite! Nem se você for piloto de Formula 1! Hehe. Assim, não há monitoramento de velocidade nem policiamento nas estradas. Mesmo assim, e com um alto numero de ciclistas, há poucos acidentes nas estradas! Por outro lado, as penas pra quem comete alguma infração são severas.

Ao desembarcamos em Portumna, a Didi veio nos receber com um sorriso no rosto que nos encheu de expectativas sobre as 3 semanas que passaríamos ali! Essa senhora, de mais ou menos 65 anos e de cabelos curtos e grisalhos é, na verdade, estadunidense e adotou a Irlanda como sua casa há 12 anos. Descobrimos que a Sunsire Farm é também um Centro Ananda Marga e a Didi é a coordenadora da produção da fazenda, dos voluntários e também das atividades de yoga e meditação.

Sobre o que é a Ananda Marga, no site da instituição está escrito que a “Ananda Marga, ou ‘Caminho da Bem-Aventurança’, é uma Organização Internacional Espiritual e de Serviço Social fundada na Índia em 1955 por Shrii Shrii Anandamurti e conta com milhões de membros em todo o mundo. (...) A Ananda Marga procura combinar práticas espirituais (meditação, posturas de Yoga, conduta moral e dieta natural adequada) com o serviço dinâmico ao próximo (escolas, clínicas médicas, orfanatos, cooperativas, asilos para idosos e outros projetos para o benefício da humanidade). Seu lema é "Auto realização e Serviço à Humanidade."

Outra coisa interessante que descobrimos foi o sobre o nome “Didi” da nossa anfitriã: Didi significa irmã em sânscrito e existe essa denominação porque na Ananda Marga as pessoas que estão qualificadas a ensinar, as Acaryas e os Táttvikas, são comumente chamados de “Didi” (no caso de mulheres) ou “Dada” (no caso de homens) respectivamente. (Fonte: http://prabhata.org/pt).

A fazenda possui uma casa antiga que foi reformada só com a ajuda de voluntários e pode abrigar cerca de 15 pessoas, em 3 quartos coletivos. Já que éramos um casal, nos foi oferecido um trailer “aposentado”, fora da casa, juntinho ao rio, para maior privacidade. Topamos! Depois de uns dias, começou a fazer tanto frio, que parecia que estávamos dentro da geladeira da casa! Hehe. Felizmente no trailler havia um tipo de lareira-estufa, movido à lenha, senão iríamos congelar no verão irlandês! Hehehe

Rotina na Sunrise Farm

Ao chegarmos na Sunrise Farm fomos apresentados aos demais voluntários: 7 pessoas provenientes de Madagascar, França, México e Filipinas. Alguns estavam por ali há meses, outros por algumas semanas.

A nossa rotina era mais ou menos assim:

8h00 - Yoga

9h00 - Café da manha, divisão de tarefas e instruções para o dia

10h00 – Atividades na fazenda

15h00 - Almoço

16h00 - Tarde livre

19h00 - Kirtan e meditação

20h00 - Jantar (opcional - não pra mim! hehe)

Sextas-feiras: mercado em Scariff.

Sábados: mercado em Mountshannon.

Domingos e segundas-feiras: livre.

As atividades envolviam os cuidados com a horta e pomar orgânicos (plantio, “catá mato” e rega). Nas estufas se plantava feijões, abóboras, couves, brócolis, repolhos, tomates, beterraba, abobrinhas, alface, mostarda, batatas e algumas plantas e flores comestíveis não convencionais. No pomar se cultivava maçãs, groselha, mirtilo, framboesa e outras variedades de “berries”.


Na fazenda tinha ainda uma “padaria”, onde eram confeccionadas delícias, como barrinhas de cereais, pães, bolos, hambúrgueres vegetais, pestos e geleias. Os produtos eram comercializados nos mercados abertos nas vilas próximas à fazenda e faziam o maior sucesso! A Didi fazia questão que os voluntários fossem participar das vendas no mercado e, logo no meu segundo dia, me vi sozinha na banca da Sunrise Farm numa feirinha local. Depois do susto, interagi com as colegas de outras fazendinhas e com os clientes, e o dia fluiu super bem.

Preparar o almoço para o grupo também faz parte das atividades dos voluntários. Como em diversas tradições orientais, nas instituições da Ananda Marga a culinária também é vegetariana ou vegana e não se utiliza cebola, alho, nem cogumelos. No primeiro dia me perguntaram se eu queria fazer uma lasanha, já que eu estava vindo da Itália (!!!!) e eu quase surtei! Lasanha sem queijo e molho sem alho e cebola?!! Afeeeee! Aceitei a designação e aprendi a fazer um maravilhoso molho com os tomates, legumes e temperos da horta, massa feita de arroz e um tipo de fermento nutritivo para substituir o queijo. Ficou ótima!

O Clever tinha a incumbência de, junto com o voluntário de Madagascar, o Edwin, consertar tudo que estivesse vazando, quebrado ou quebrando pela fazenda. Tarefa pra vida toda! Além disso, os dois se dedicavam (e se divertiam) à construção de um novo banheiro seco ecológico, chamado de “compost toillet”.

Rompendo as barreiras do nojinho

Para quem não conheceu de perto um banheiro seco, o site “Planeta Sustentável” ajuda a entender o conceito:

O banheiro seco ou compostável foi criado para promover o uso racional da água e, ao mesmo tempo, aproveitar os resíduos sólidos como adubo orgânico. (...) Em vez de encanamentos hidráulicos para levar os dejetos para bem longe (e com um consumo considerável de água), temos duas câmaras de compostagem que armazenam os resíduos até que eles se transformem em composto. (...) Após o uso, ao invés de apertar a descarga (que não existe no banheiro seco), é necessário jogar um pouco de serragem dentro do vaso, para facilitar a compostagem e evitar mau cheiro.”


Para quem acha primitivo ou um retrocesso, a autora diz:


Vale a triste lembrança: com mais de um bilhão de pessoas sofrendo com a falta de água em todo o mundo, e uma população ainda muito maior que não tem saneamento básico, taí uma idéia que pode prevenir doenças, evitar a contaminação do solo e de rios e até virar fonte de renda para muita gente (com a venda do adubo orgânico). Primitivo para mim, hoje, é gastar em uma só descarga, mais água do que muitas pessoas conseguem consumir em todo o dia.


Vocês encarariam usar o banheiro seco? Bem, lá não tínhamos opções. Todos nós utilizávamos o chamado “compost toillet”, que ficava do lado de fora da casa. A aparência “externa” é semelhante à privada convencional, mas ao invés da descarga, adiciona-se serragem no final do “procedimento”. No início eu achava um pouco estranho, já que não há descarga de água e só de imaginar que as fezes de uns ficavam empilhadas em cima das de outros, já me dava nojo total! Hehe Entretanto, com o tempo percebi que não era bem assim, que se bem construído (era o caso) não há contato “visual” com as fezes e não há odores desagradáveis. Aliás, o cheiro que se sentia era o de pinho, já que a serragem usada era a do corte da madeira dessa árvore. A limpeza do local (pia, vaso sanitário) pode ser feita com produtos “ecológicos”. Passado o nojinho, o banheiro seco passou a fazer parte da lista de experiências sustentáveis que aprendemos por lá.

Yoga e Meditação

As práticas de yoga e meditação eram lideradas pela Didi. Gostamos muito do estilo e praticávamos diariamente. Foi uma ótima oportunidade para voltarmos às práticas regulares que fazem um bem incrível para o corpo e para a alminha.


Ouvimos muita gente reclamando das suas rotinas diárias, que acabam se tornando um importante fator de estresse. Entretanto, estava pensando que a vida sem rotina alguma, também pode ser estressante. Já pensaram como é dormir em um local, quarto e cama diferentes a cada semana? E não ter a menor ideia de como serão as pessoas e a rotina de onde você passará o mês inteiro? E como é ter tempo livre aos “quilos” para fazer o que quiser? É... Parece fácil, mas vem sendo um grande desafio e um aprendizado para nós. Por isso, conseguir um pouco de rotina por 3 semanas, e ainda incluir meditação, foi um presentão para nossa jornada!!!

A novidade para nós no quesito meditação e yoga foi o Kiirtan.


Kiirtan é o cântico de um mantra com a ideação no Ser Supremo. Transmite um sentimento de bem-aventurança e prepara a mente para a meditação, pois ao fazê-lo estamos a direcionar todos os nossos órgãos sensoriais e motores para o Supremo. Pode ser feito em qualquer local e a qualquer hora, mas o ideal é fazê-lo sempre antes de meditar.


O mantra usado para o kiirtan na Sunrise Farm é: “Baba Nam Kevalam“. “Baba" significa “O meu amado”, Nam significa “nome” ou “vibração” e Kevalam significa “apenas”. Então o significado literal do mantra é “tudo o que existe é o meu amado” ou, mais simplesmente, “Amor infinito é tudo o que existe“. (http://www.anandamarga.pt)


Cantávamos antes da meditação, antes de todas as refeições e durante as atividades. Me via colhendo mirtilo e cantando o mantra... aquela paz total! O Baba Nam Kevalam tornou-se parte das nossas intenções e do nosso repertório.


Aos sábados, a fazenda recebia amigos das vilas próximas para prática do kiirtan e meditação em grupo. Gostávamos muito!


Para quem quiser escutar um pouco, aqui tem:

Vida fora da fazenda ou em contato com o resto da Irlanda

Já no nosso segundo dia na fazenda, os voluntários foram convidados para uma seção de “imersão sonora” (ou gongo terapia) em Scarrif, uma cidadezinha alí pertinho. Imersão sonora? Que será isso? Sei lá... Vamos ver o que é!! Bom, era isso aqui: https://www.youtube.com/watch?v=bMkC-iod2hI . Foi bem bacana e ficamos tão zen, que suspeito ter visto um Leprechaun rindo da gente no quintalzinho-floresta da casa! hehe


No primeiro final de semana que tivemos livre, descobrimos que fazer uma viagem às vilas próximas à fazenda ou mesmo passear nas atrações turísticas próximas por conta própria não seria nada fácil.


Aqui já fica a dica para aqueles que quiserem visitar a Irlanda em um esquema não-convencional. Fora da capital, Dublin, ou das cidades maiores como Galway, o transporte coletivo intermunicipal é muito ruim e caro. Por exemplo, estávamos a 80 km de distancia de Galway (capital de condado, super famosa) e para chegar lá teríamos que pegar uns 3 ônibus diferentes, pagar perto de 60 Euros por pessoa e gastar umas 4 a 6 horas. Inviável, né? Alugar um carro parecia uma boa opção, entretanto, além caro e de não haver locais para aluguel nas proximidades, não nos sentimos muito confortáveis em dirigir na “mão inglesa”. Sabendo disso, nossa anfitriã e amigos dela sempre convidavam os voluntários para passeios na região.


Nesse esquema visitamos os famosos Cliffs de Moher e o mais incrível foi o presentão: um dia ensolarado! Não sabíamos, mas seria o único em 3 semanas de estadia!! Os Cliffs de Moher são a atração natural mais visitada da Irlanda, com a média de um milhão de visitantes anuais. São falésias com extensão de 8 km sobre o oceano Atlântico, na costa ocidental do Condado de Clare. Recomendamos uma visita! Aproveitamos o dia lindo e fomos também pra praia. Nós e todos os irlandeses... hehehe! Ah, dava pra ver a alegria das famílias na praia de Fanore, com aquele solzão! E eu, que achava que o Clever estava “branquelo”, vi que ele parecia o Paulo Zulu da Irlanda! hehehe.

Outro passeio foi ao lago Derg, um dos maiores lagos da Irlanda. Como ele fica a 7 km da fazenda, decidimos um dia fazer uma caminhada até lá. Muito legal!! O lago tem uma longa história de habitação desde os tempos pré-históricos – um povo famoso que morou por lá foram os celtas. Mais de 90 locais de patrimônio são acessíveis em torno de Lough Derg. Gostamos muito!


Com o amigo inglês e que mora na Irlanda há anos, o Briganauth, fizemos uma “excursão” para vilas medievais e praias fora do roteiro turístico. Visitamos Kilmacduagh Abbey, próximo à cidade de Gort, Doolin e a praia de Traugh. Nessa última, almoçamos sob uma garoazinha fina e a uma temperatura de 15 graus. Adoramos! Heheh


Por fim, para não perder a oportunidade de interagir mais com os locais, fomos ao Festival tradicional chamado “Scariff Harbour”. Foi super bacana: comidinhas, musica e dança típicas. Os irlandeses são realmente uma simpatia! Nos divertimos muito!


Passamos o último dia em Dublin, tentando passear pela cidade. Pode ser coincidência, mas Clever e eu ficamos tão cansados, tão sem energia e ainda com dor de cabeça, que chegamos ao aeroporto exaustos. Depois ficamos refletindo e acreditamos que as energias da natureza, do centro de meditação e yoga e ainda a alimentação orgânica e vegetariana por 3 semanas deram uma desintoxicada em nós de uma forma que a estadia na cidade nos pareceu intolerável...


Bem, querem mais dicas da Irlanda? Hmmm, quem acompanha nossas postagens já deve ter percebido que nós não temoa dado dicas de passeios e nem de roteiros turísticos pelos países por onde passamos – só porque esse não é o objetivo do blog! Para isso, há outros sites bem legais e com muuuita informação que consultamos com frequencia e recomendamos:

360 Meridianos http://www.360meridianos.com/

Mochileiros ponto com http://www.mochileiros.com

Viajo Logo existo http://www.viajologoexisto.com.br/

Agradecemos à nossa “host” na Sunrise farm, aos demais voluntários e a todos vocês que estão nos acompanhando nessa jornada.

As MA-RA-VI-LHO-SAS fotos desse trecho da viagem estão no Flickr do Clever. Cliquem no icone ao lado pra ver todas elas!!

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